"As ruas fervem em todo o Brasil. Jovens, e outros nem tanto, ocupam as cidades que o capital teima em tentar monopolizar para seu gozo exclusivo, exigindo transportes mais baratos e, cada vez mais, direito à livre manifestação. Com muito vinagre e fogo no lixão urbano, os manifestantes rebelados afrontam as bombas de gás, balas de borracha, e outras nem tanto, da repressão policial. Nos (tele)jornais, querem dirigir o que não puderam evitar, apresentando um vilão fantasmático: “a corrupção!”, para tentar desviar o foco da materialidade das contradições sociais que emergem com as centenas de milhares de pessoas nas ruas. Para eles, há os pacíficos e os vândalos. Bandeiras nacionais e hinos patrióticos representam a “verdadeira cidadania”, os partidos de esquerda seriam os “aproveitadores”. A linha é tênue, e varia conforme os humores dos manifestantes e as “sondagens de opinião”. Há quem, nas próprias manifestações, reproduza valores desse esforço ideológico para direcionar as mobilizações para a zona de conforto da classe dominante. Mas, os jornalistas dos monopólios da comunicação precisam se refugiar nos helicópteros e estúdios, porque sabem que a maioria ali não acredita no que dizem e nas ruas podem também ser brindados com o escracho dos que lutam. Lutam pelo que? O que explica a explosividade e a rapidez surpreendentemente desses acontecimentos? Aonde podem chegar? Qual o seu potencial? E os limites que precisam ultrapassar?" - Com esta breve introdução iniciamos nosso blog em junho de 2013. A luta continua e por isso este espaço continua aberto às analises!

sábado, 6 de julho de 2013

As ruas e o tamanho de nossa ignorância

por Sérgio Domingues

Frei Betto publicou artigo no Brasil de Fato, em 03/07. EmRecado das ruas”, ele analisa as manifestações populares das últimas semanas. Diz que elas “fundem a cuca de analistas e cientistas políticos”. Fazem dirigentes partidários e lideranças políticas se perguntarem: “quem lidera, se não estamos ?”

Betto diz que sentiu o mesmo ao deixar a prisão da ditadura, em 1973. Ao sair, encontrou um movimento social em plena atividade. E perguntou-se: “como é possível se nós, os líderes, estávamos na cadeia?”

Como essa mesma perplexidade, diz o texto, Marx encarou a Comuna de Paris, em 1871; a esquerda francesa, o Maio de 1968; e a esquerda mundial, a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, em 1989”.

Poderíamos acrescentar a Revolução de Fevereiro, na Rússia, em 1917. Contra a vontade dos bolcheviques, as operárias têxteis iniciaram uma greve. O movimento acabou inaugurando o processo revolucionário que, em outubro, se completaria com a tomada do poder.

Na verdade, as lutas espontâneas e “não autorizadas” pelas vanguardas são o fermento de qualquer processo revolucionário. É nisso que acreditava a grande revolucionária Rosa Luxemburgo, com toda razão. Era uma de suas divergências com Lênin, ainda que ela não negasse a necessidade do partido de vanguarda.

Não vivemos uma situação revolucionária, mas as esquerdas não estão à altura nem das atuais revoltas. Ou se deixaram amansar pelo poder, ou abandonaram o cotidiano das lutas populares. Agora, as mobilizações estão aí, a revelar o tamanho de nossa ignorância. E parece que não é pequena.






Nenhum comentário:

Postar um comentário