"O recuo em vinte centavos no aumento da tarifa do transporte
rodoviário é apenas um dos inúmeros exemplos de que somente a luta coletiva
muda a vida em sociedade. Para quem está aberto a conhecê-la e a vivenciá-la,
essa descoberta imprime marcas indeléveis nas consciências e corações".
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foto: Cris Miranda |
por João Augusto de Andrade Neto, doutorando
do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento,
Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ).
Os recentes acontecimentos no
Brasil trazem de volta para a cena de uma forma requalificada oposições que
nunca desapareceram da sociedade e que para muitos aparecem ainda travestidas
em expressões políticas falsas, reduzidas ao jogo eleitoral de uma maneira
mentirosa e distorcida. Mais de dez anos de governo de um partido oriundo da
esquerda política e social, o Partido dos Trabalhadores, representado pelos
governos Lula e Dilma, criaram um perverso quadro em que no senso comum
esquerda passou a representar o mesmo que direita. O raciocínio é simples e as
massas não estão de todo equivocadas, ao menos num nível superficial. Para
chegar ao poder, os partidos de esquerda tiveram que se aliar às classes
dominantes, se corrompendo e reproduzindo as mesmas práticas que sempre
condenaram. Uma vez gerindo o Estado, o projeto político do PT impôs uma
radicalização no desenvolvimento capitalista, sob a chave do desenvolvimentismo
associado às políticas de ajuste macroeconômico neoliberais. Se a esquerda ao assumir
o Estado mostra que governa e age de forma muito semelhante à direita, quando
não idêntica, sendo quase que completamente subserviente aos interesses da
burguesia nacional e internacional, como esperar que outra fosse a opinião da
maioria das pessoas?
As manifestações nas ruas vêm
abalando fortemente os equilíbrios no quadro da luta de classes na sociedade
brasileira, o reconfigurando. Cada vez mais se tende a um acirramento das
posições políticas e à polarização da sociedade, opondo as visões de esquerda
às de direita: respectivamente, a defesa da igualdade, da justiça e do respeito
à diferença, contra a defesa da propriedade privada, da reprodução das
desigualdades sociais e até, numa leitura mais conservadora e menos liberal, do
preconceito e da discriminação contra “minorias”. Ganha espaço e visibilidade
neste contexto a oposição entre a lógica do público e da defesa do social em
confronto com a lógica do privado e da defesa dos interesses econômicos particularistas.
Remoções, grandes eventos
desportivos, visita do Papa, máfia dos transportes, caráter militar e
truculento da polícia, corrupção, ausência de um sistema de saúde e de educação
públicos e de qualidade, dentre outros temas que emergiram no debate de forma
mais intensa nos últimos dois meses, apontam para muito mais do que uma crise
moral na política: indicam a falência do atual modo de organização da
sociedade. Em tempos de pujança econômica no Brasil e de prevalecência de um
modelo de desenvolvimento violador dos direitos humanos e concentrador da
riqueza, as ruas se encontram cheias de pessoas questionando a forma como a
sociedade se organiza politicamente e o fato de que esta organização via de
regra favorece aos interesses de uma minoria e desfavorece a imensa maioria da
população. Atônitos, muitos se perguntam como pôde acontecer a atual explosão
de manifestações. Ninguém entende bem o porquê das sucessivas mobilizações
multitudinárias e os fatores que foram determinantes para que ocorressem. No
entanto, é consenso que sobram motivos para se protestar por um país mais justo
e socialmente desenvolvido.
A oposição entre esquerda e
direita, que para alguns soa erroneamente como um maniqueísmo ou simplificação
da realidade, representa de fato uma dicotomia existente na sociedade e na
política. No campo da esquerda estão aqueles que creem na igualdade social como
um valor fundamental para a humanidade, um objetivo superior a ser perseguido.
No campo da direita está quem defende que a desigualdade social é natural ao
ser humano, o que serve como uma forma para justificar o assombroso fato de que
poucas pessoas detêm tanta riqueza enquanto tantos têm tão pouco.
A visão limitada da política presente
no senso comum que tende a igualar esquerda e direita em termos meramente
partidários e eleitorais pode no atual momento histórico ser posta em cheque,
na medida em que se redescubra que tal oposição transborda para além da esfera
da política representativa: está na sociedade e figura em cada ato, cada
opinião, cada expressão. Não se trata apenas de uma questão de partidos
eleitorais desfigurados pelo modo torpe de funcionamento da estrutura política,
mas sim de visões de mundo e do modo como se age em sociedade e de quais
interesses se defende. Do ponto de vista subjetivo, trata-se de reconhecer de
qual lado se está nas lutas que estão sendo travadas e de cerrar fileiras junto
a quem assume semelhantes posições – fenômeno este que pode ser chamado de
politização da sociedade.
Recuperando os eventos recentes no
Brasil, podemos pensar em como a oposição entre esquerda e direita emerge na
sociedade, fornecendo matrizes de discurso e de ação para os indivíduos e
grupos. Entre os principais eventos recentes, chama a atenção o fato de que as
mesmas pessoas que se compadecem e se indignam por causa de algumas vidraças quebradas
no Leblon por razão dos excessos das massas revoltosas são incapazes de se
solidarizar com os mortos pela ação genocida da Polícia Militar na Favela da Maré,
em que aproximadamente uma dezena de pessoas foi chacinada, e com o
desaparecimento de Amarildo, que foi sequestrado pelos policiais da Unidade de
Polícia Pacificadora na Rocinha, onde vivia e foi confundido pela polícia com
um "bandido".
Como pode a violência contra as
classes populares ser aceita com tanta naturalidade, enquanto o protesto contra
o governo e o Estado que a praticam é tratado como um grave problema social a
ser combatido de forma truculenta? A cada vez em que se consente de maneira
explícita ou tácita com o assassinato de gente do povo e a cada vez em que se
faz coro junto com a grande mídia golpista e as forças da repressão contra quem
está nas ruas se manifestando, se perde um pouco mais em termos de humanidade:
a cada vitrine defendida e a cada trabalhador morto ignorado as pessoas se
tornam menos humanas. Cada declaração de apoio à defesa intransigente da
propriedade privada e dos privilégios de classe representa ao mesmo tempo um
golpe na tão frágil condição humana.
Entretanto, esse processo de perda
da humanidade é consequência e não causa. Em cada ação de apoio às vitrines do
Leblon e em cada silenciamento sobre a morte de quem mora em favelas está
embutido um juízo de valor referido a um ponto de vista de classe social: se
reforça a adesão à visão de mundo e aos interesses da burguesia, isto é, dos
grandes empresários, banqueiros, industriais, financistas e latifundiários, que
são beneficiados pela manutenção da ordem social desigual. Por meio do poderoso
instrumento forjador de opiniões que é a mídia, pelo controle das leis e da
educação formal, esses interesses são impostos como se fossem universais, como
se representassem a toda a sociedade. Em realidade, trata-se dos interesses de
um limitadíssima parte da sociedade, os quais acabam sendo defendidos de forma
quase irracional pela classe média e inclusive por segmentos das próprias
classes populares, atentando contra os seus próprios interesses.
A visão de mundo dominante,
construída historicamente pela burguesia e seus aparelhos ideológicos,
representa o fruto de processos anteriores de dominação no campo das ideias
políticas e visões de mundo. Essa dominação se reatualiza, por exemplo, quando
se acredita e se reproduz as informações divulgadas por meio da cobertura que a
Rede Globo faz sobre os protestos populares. Raramente são questionados pelo
cidadão comum os processos pelo qual são moldadas as opiniões que ele próprio
emite. A Globo, com seu enorme poder de alcance e com livre acesso às
residências e mentes da maioria da população, forja mentiras e mostra aspectos
da realidade de maneira tendenciosa, de modo a tentar preservar a ordem
desigual que beneficia aos segmentos da classe burguesa, aos quais representa.
Cada manifestação nas ruas oferece uma ameaça à ordem social injusta na qual
vivemos e quem dela se beneficia não deve facilmente aceitar mudanças que
impliquem na perda de poder. Neste sentido, o uso da violência através da
coerção física e o uso da dominação ideológica por meio da tentativa de produção
de consensos são e deverão ser cada vez mais utilizados de maneira ostensiva.
As pessoas em geral não têm o
costume de parar para pensar criticamente no que realmente está acontecendo na
sociedade e na política e habitualmente não refletem sobre suas próprias
posições políticas de forma objetiva. Em muitos casos, sequer têm elementos
para fazê-lo, pois as informações a que têm acesso estão impregnadas pelo viés
ideológico e manipulador da grande mídia, que representa a principal fonte de
informações e formadora de opiniões para a imensa maioria da população. Por
isso, no atual momento histórico todos têm a oportunidade e o dever de colocar em
questão as formas de dominação ideológica, fazendo a batalha não apenas nas
ruas, mas também no campo das ideias, discutindo, divulgando informações e
propagando opiniões divergentes em relação àquelas presentes no senso comum.
As diferentes formas de violência
contra as classes populares estão sendo alvo de protestos como não se via há
muito tempo. Quem assiste ou participa das manifestações das massas está sendo
tocado e mexido de tal forma pela experiência que é forçado a se posicionar: De
que lado ficar? É legítimo protestar? Por que o povo tem ido tanto às ruas? Em
quê desembocará todas essas manifestações e até quando conseguirão as pessoas
se manter nas ruas em protesto? Estas são algumas das questões que não saem das
bocas e mentes das pessoas comuns.
Quando imaginaríamos que toda a
sociedade brasileira seria chamada a discutir os problemas sociais de forma tão
viva e contundente, vivendo e pensando a política nas ruas e no cotidiano e buscando
romper com o sequestro da política imposto pelo corruptos mecanismos de
representação eleitoral instituídos? Até dois meses atrás quem poderia dizer
que a juventude e os trabalhadores se uniriam aos moradores da Rocinha para
fazer um protesto no Leblon, um dos bairros mais caros para se viver do mundo,
questionando não apenas o Governo de Sérgio Cabral no Rio de Janeiro, mas a
própria estrutura do Estado capitalista e seu viés violento, assassino e
corrupto?
Cada item da pauta de lutas
presente nas ruas representa o desferimento de um golpe na lógica de
funcionamento do capitalismo: ser contra a corrupção significa, de fato,
questionar a promíscua relação entre o poder econômico e o poder político,
existente no capitalismo desde seus primórdios. Gritar contra a colossal
injeção de recursos em eventos como as copas, as olimpíadas e a vinda do Papa
não significa senão a rejeição de um modelo de cidade excludente, voltado aos
ricos, que remove pobres de suas moradias e das ruas e faz com que os bairros
das zonas centrais e altamente valorizadas da cidade cada vez mais pertençam
apenas àqueles que têm alto poder aquisitivo, incluindo neste processo as favelas
“pacificadas”. Gritar contra um governante tem o papel de apontar não apenas os
defeitos morais do mesmo, mas fundamentalmente de negar o modelo de políticas
públicas e a forma de gerir a máquina estatal, que privilegia uma minoria e
deixa a maior parte da população num estado miserável. Mas a corrupção dos governantes
e servidores públicos só existe porque o poder econômico atua ativamente os
subornando e produzindo uma lógica de trocas clientelistas que representam o
avesso do que deveria ser a democracia e, neste sentido, a crítica se volta
também à própria estrutura política estabelecida.
Ecoam na esfera pública de forma
pungente as disparidades gritantes de um sistema que não encontra outra solução
senão sua destruição e a reconstrução da forma de organização da sociedade.
Este é o significado fundamental para o qual devem ser direcionados os gritos
“por um Brasil melhor”. A destruição do velho é conclamada como forma de abrir
caminho para um novo país: é uma destruição criadora. Na contramão deste
sentido revolucionário, as pessoas que manifestam posições políticas de direita
reagem violentamente e a cada dia mostram mais que estão a serviço de uma
campanha truculenta em defesa da propriedade privada, da manutenção das
desigualdades sociais e da falta de respeito para com as diferenças socioculturais.
Quando segmentos da sociedade a impelem a mudanças num sentido progressista e
democratizante, quem se posiciona politicamente de forma conservadora costuma
ser taxado como reacionário justamente por isto: pelo fato de reagirem contra o
avanço de possíveis processos de transformação social.
Os defensores de posições do campo
político da extrema-direita costumam ser chamados vulgarmente de fascistas, não
porque de fato assumam essa ideologia de maneira consistente, em sua imensa
maioria, mas porque seu conservadorismo e reacionarismo evocam elementos das
ideologias fascistas. O projeto político fascista propõe a supressão da
diversidade, o extermínio de quem é, vive, pensa e age diferente, e busca,
acima de tudo, assegurar a ordem capitalista de forma autoritária. Por ora,
sabemos que os defensores conscientes dessa ideologia no Brasil são uma ínfima
minoria de pequenos grupos de neonazistas e integralistas. Mas existe sempre o
risco de que cresçam, ameaçando as conquistas sociais e o ainda incipiente
processo de democratização da sociedade. Por isto, todo cuidado é pouco.
Enquanto o ponto de vista da
esquerda afirma a luta pela garantia de fato de direitos a todos os cidadãos,
para além da “letra morta” da formalidade legal, quem defende os posicionamentos
de direita costuma instrumentalizar a lei para garantir privilégios pessoais,
negando direitos às classes populares e desrespeitando a diversidade social e
cultural. As pessoas que assumem práticas de direita tendem, de forma
consciente ou inconsciente, a atuar a serviço da negação do acesso a direitos
humanos para o outro, o que produz ao mesmo tempo a desumanização de si próprios.
Mesmo aqueles que se situam no campo da direita liberal e mantêm uma retórica de
defesa dos direitos, aparentemente menos conservadora e mais progressista,
encontram como limite efetivo para a democratização da sociedade a contradição
que opõe aqueles que são proprietários dos meios de produção e das riquezas em
geral à imensa massa de trabalhadores que destes bens são desprovidos. Enquanto
houver relação de exploração do homem pelo homem e o trabalhador for forçado a
vender sua força de trabalho para um patrão para fins de sobrevivência, sempre
existirá a desigualdade no acesso a direitos. Como consequência, sempre haverá
classes minoritárias numericamente que serão “mais livres” do que as classes
majoritárias, comandando o Estado e os rumos da sociedade de modo a garantir o
injusto status quo.
Para aqueles que assumidamente são
de esquerda e que representam as forças progressistas da sociedade, defendendo
os interesses das classes populares, vive-se um prolongamento da mobilização de
quem nunca adormeceu. Por outro lado, quem "desperta" para a política
agora traz consigo todo um enorme acúmulo de indignação, que começa a ser
canalizado para ações coletivas. Estamos assistindo a um crescente reconhecimento
de que o poder da sociedade consubstanciado em movimentos coletivos tem
capacidade transformadora. Esse reconhecimento vem acompanhado da adoção de
formas de ação e discursos que trazem o novo para os cidadãos. Um novo que é
fruto da experiência vivida e ainda embrionariamente alvo de reflexão. Trata-se
de um novo ainda pouco compreendido, promissor no potencial de mudança de consciências
e de politização. Um novo que por enquanto é muito mais vivido e sentido do que
consubstanciado em consciência política e na adesão a um projeto alternativo de
sociedade. O recuo em vinte centavos no aumento da tarifa do transporte
rodoviário é apenas um dos inúmeros exemplos de que somente a luta coletiva
muda a vida em sociedade. Para quem está aberto a conhecê-la e a vivenciá-la,
essa descoberta imprime marcas indeléveis nas consciências e corações.
Neste momento, uma difícil e
complexa tarefa está colocada: a conquista das massas para um projeto político
radical de transformação da sociedade, para uma guinada à esquerda, no sentido
da generalização da efetivação de direitos e da redistribuição da riqueza de
modo mais igualitário. Ser de esquerda significa assumir tais princípios como o
eixo central de reivindicações no sentido da construção de um mundo novo. O fim
da corrupção do poder público, bandeira tão mencionada nas recentes
manifestações, e a mudança deste modo desigual e violento de organização da
sociedade só poderão ser alcançados com a instituição de uma nova sociedade
fundada sobre outras bases econômicas, culturais e políticas. Está em jogo a
luta por uma sociedade na qual o ser seja mais valorizado do que o ter, em que
os interesses da maioria prevaleçam sobre os privilégios de uma minoria, em que
a democracia direta e participativa efetivamente descentralize o poder e o
distribua de forma mais igualitária entre os cidadãos.
Os princípios que orientam esse
projeto político vêm de uma longa tradição política dos trabalhadores
organizados em luta contra o capital, que remonta ao século XIX. A arena em que
se desenrolam os embates entre o povo e a burguesia é chamada de luta de
classes: uma luta que opõem aqueles que detêm os poderes econômico e político
aos trabalhadores, estudantes, camponeses, indígenas, negros, aposentados e
tantos outros sujeitos das classes populares. A esquerda propõe como
alternativa democrática ao capitalismo a construção de uma sociedade socialista.
Socialismo é o nome do projeto político que há muito as forças sociais
capitalistas vêm tentando apagar da história, especialmente nos últimos 40 anos
com o desenvolvimento do chamado neoliberalismo em todo o mundo. Mas as lutas sociais
e políticas pressionam para que o projeto de uma sociedade autogerida pelos
trabalhadores seja recolocado em cena, suprimindo a existência da divisão entre
classes dominantes e classes dominadas na sociedade.
Não se trata de apresentar um
modelo pronto e acabado de organização da sociedade. Neste sentido, a luta pelo
projeto do socialismo não se confunde com os resultados das experiências
históricas que já existiram em alguns países, as quais tenderam para o
desvirtuamento do caráter democrático inerente à proposta. O socialismo é um
processo de construção coletiva em aberto, cujos rumos dependem da atuação de
quem nele participa. Liberdade e democracia direta são valores centrais para a
construção do socialismo e ao mesmo tempo representam a garantia contra formas
autoritárias e burocratizadas de organização política, assegurando a
horizontalidade nas relações.
Vivemos um momento ímpar que pode
proporcionar que outro projeto político de sociedade ganhe força na disputa com
o atual modelo capitalista. A responsabilidade histórica está nas mãos de todos
que estão nas ruas, novos e velhos manifestantes, debatendo e se organizando
para reivindicar direitos. Para quem coloca seu corpo e sua mente à serviço da
mudança social no sentido da democratização plena da sociedade não há tempo a
perder ou para sentir medo. Conquistar corações e consciências para a causa da
transformação social é uma das principais tarefas colocadas para se atingir o
horizonte da mudança. Organização, mobilização e trabalho de base são os meios que
estão sendo recuperados na prática social e política para se tentar alcançar esse
objetivo.
Decerto, o Brasil não voltará a ser
o mesmo que era antes de junho de 2013. O futuro do país está, mais do que
nunca, nas mãos do seu povo, que tem o dever de se organizar e lutar em prol
dos interesses coletivos, dos bens comuns do meio ambiente, da defesa do que é público,
contra a privatização da vida, contra a injustiça social e a falta de respeito
à diversidade. Quem compartilha desses ideais e busca formas para exercê-los na
prática está próximo a uma visão de mundo da esquerda, quer saiba, quer não. Semelhante
argumento vale para o caso daqueles que reproduzem ideias e práticas de
direita, que podem estar se posicionando no campo político liberal e/ou
conservador, mesmo sem ter plena consciência disto e do quê isto significa de
fato. Saber se definir politicamente é fundamental para ter clareza sobre com
quem se compartilha semelhantes ideias e opiniões, sobre junto a quem se
pretende estabelecer alianças e para saber como formar sua própria opinião de
um ponto de vista reflexivo. Num contexto em que todos são conclamados a se
posicionar perante os fatos políticos que representam as manifestações
populares nas ruas, uma velha e inquietante pergunta emerge novamente com
força, incitando o debate e a autorreflexão: De que lado você está?
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