"As ruas fervem em todo o Brasil. Jovens, e outros nem tanto, ocupam as cidades que o capital teima em tentar monopolizar para seu gozo exclusivo, exigindo transportes mais baratos e, cada vez mais, direito à livre manifestação. Com muito vinagre e fogo no lixão urbano, os manifestantes rebelados afrontam as bombas de gás, balas de borracha, e outras nem tanto, da repressão policial. Nos (tele)jornais, querem dirigir o que não puderam evitar, apresentando um vilão fantasmático: “a corrupção!”, para tentar desviar o foco da materialidade das contradições sociais que emergem com as centenas de milhares de pessoas nas ruas. Para eles, há os pacíficos e os vândalos. Bandeiras nacionais e hinos patrióticos representam a “verdadeira cidadania”, os partidos de esquerda seriam os “aproveitadores”. A linha é tênue, e varia conforme os humores dos manifestantes e as “sondagens de opinião”. Há quem, nas próprias manifestações, reproduza valores desse esforço ideológico para direcionar as mobilizações para a zona de conforto da classe dominante. Mas, os jornalistas dos monopólios da comunicação precisam se refugiar nos helicópteros e estúdios, porque sabem que a maioria ali não acredita no que dizem e nas ruas podem também ser brindados com o escracho dos que lutam. Lutam pelo que? O que explica a explosividade e a rapidez surpreendentemente desses acontecimentos? Aonde podem chegar? Qual o seu potencial? E os limites que precisam ultrapassar?" - Com esta breve introdução iniciamos nosso blog em junho de 2013. A luta continua e por isso este espaço continua aberto às analises!

domingo, 3 de novembro de 2013

Por que os black blocs incomodam-tanta gente


Por Paulo Nogueira, Carta Maior
A mídia corporativa – a voz rouca e obsoleta do conservadorismo nacional, ou do 1% - os chama de vândalos, baderneiros, bandidos, criminosos, arruaceiros, terroristas e por aí vai.

Pela ótica da direita, o crime dos black blocs é denunciar espetacularmente a desigualdade social brasileira. O sonho da direita brasileira é um povo que aceite docilmente a divisão da sociedade entre 99% e 1%, para lembrar as porcentagens eternizadas pela campanha do movimento Ocupe Wall Street.
Pela ótica da esquerda, mais especificamente a esquerda petista, os black blocs cometem um pecado mortal. Eles não dobram os joelhos para reverenciar os avanços sociais realizados pelo PT nos últimos dez anos. Na verdade, eles acham que os avanços foram muito menores do que poderiam e deveriam ser.
Eles querem mais, muito mais inclusão – e não enxergam nem no PT e nem em outros partidos de esquerda a resposta a seus anseios.
Não é tão difícil assim enxergar os motivos da revolta dos jovens black blocs. Veja o que está acontecendo com os índios sob Dilma. Ou o que ocorreu a tantos pobres que tiveram o azar de construir seu casebre num local marcado para receber obras da CopadoMundo.
Agora preste atenção no garoto de 17 anos da Zona Norte de São Paulo que antes de morrer ainda teve tempo de perguntar ao PM que o assassinou por que atirou. A seu lado, vendo tudo, estava o irmão do jovem mártir, de 13 anos.
Quem está cuidando dessa gente toda? Um governo popular tinha que fazer mais. Indigenistas já notaram que na ditadura militar foram feitos mais assentamentos do que nos governos do PT. (Neste caso, a atenção de Dilma está muito mais com os ruralistas, de cujo apoio depende para governar, do que com os índios.)
A esquerda petista, ou parte dela, gostaria que tudo isso ocorresse e ninguém reclamasse para não atrapalhar a marcha de Dilma rumo ao segundo mandato. E então os black blocs, para essa esquerda, viram a mesma coisa que representam para a direita. São vândalos, bandidos e tudo aquilo que você lê e ouve em reacionários como Jabor e derivados.
Alguma coisa os jovens mascarados devem estar fazendo de certo para desagradar tanto os dois lados do chamado sistema.
Tenho para mim que pelo ângulo da esquerda, que é a que me interessa, eles estão dizendo: chega de tanta iniquidade.
Caso seja entendida essa mensagem fundamental, Dilma poderá fazer um segundo governo bem melhor que o primeiro – caso, como sugerem fortemente as pesquisas, ela ganhe em 2014.
Ela talvez se anime, por exemplo, a enfrentar os grupos de mídia para uma reforma antimonopolística que é vital para a sociedade. A ‘opinião pública’ não pode ser manipulada por quatro ou cinco famílias cuja prioridade um, dois e três são seus próprios interesses econômicos.
Por que CristinaKirchner desafiou o Clarín e nem Lula nem Dilma desafiaram a Globo? Porque as circunstâncias são diferentes – sempre são, aliás - ou porque Cristina teve mais cojones?
Qualquer que seja a alternativa que você escolha, o fato é que a sociedade argentina se beneficiará extraordinariamente da Lei de Mídia pela qual Cristina se bateu epicamente.
Enquanto isso, sob o PT, a Globo – mesmo com Ibopes com quedas recordes – levantou 6 bilhões de reais em anúncios oficiais que financiam um exército multimídia de colunistas dedicados a defender privilégios e iniquidades.
No fundo, os black blocs estão cansados de tanta acomodação. E quem pode dizer que eles estão errados?

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